Já há duas longas horas que ela calcorreava para baixo e para cima o Parque Eduardo VII. Nada, nem um cliente de jeito, caramba!
Apareceu um espanhol, orelhas grandes, peludo e todo mesclado como se tivesse andado a apanhar sol em parte incerta ... mas ela recusara-o: com a sua cor negra logo seria notada quando fosse com ele.
Apareceu um outro, um irlandês, ruivo; era magro, manco, quase exangue, de tal maneira uma figura triste que ela teve medo que ele morresse ali se o "atacasse".
Havia imensos perigos na sua profissão, como por exemplo as suas colegas/concorrentes; umas eram voluptuosamente cheias e apetitosas, outras pareciam umas avezinhas ruidosas.
O perigo maior, no entanto, vinha dos seus perseguidores, que as atacavam impiedosamente pois assim ordenava a sociedade, para quem elas não passavam de umas parasitas.
Meditando em tudo isto as lágrimas vieram-lhe aos olhos e estava quase a desistir; mas lembrou-se dos filhotes, que por serem muito bébés, precisavam dela para se alimentar e resolveu continuar e pensar em coisas mais alegres.
Caía a noite e viu passar algumas senhoras elegantes, vestidas com peles, que depois de uns belos banquetes se dirigiam ao teatro com os seus maridos, amantes ou namorados.
Suspirou.
"Porque é que Deus me fez assim?"
De repente, o seu coração fraco palpitou; os seus olhos negros perscrutaram o horizonte e eis que toda ela começou a tremer de excitação;
Ah! Agora sim!
Descendo a avenida do outro lado do passeio vinha um elegante macho, não muito peludo, bem vestido.
Pelo aspecto é alemão, com toda a certeza!
Algo lhe dizia que devia estar cá de férias.
Tinha que o atrair para este lado da avenida pois se atravessasse daria muito nas vistas e poderia ser atropelada, apesar do trânsito àquela hora já não ser muito.
Vou ali para aquela esquina; os meus clientes são certinhos e as esquinas são os melhores ponto-de-encontro.
Esgueirou-se por entra as colegas e os demais transeuntes e logo alcançou a esquina antes dele. A dois metros de si alguns contentores de lixo alianhavam-se meio cheios.
Como tinha calculado, o seu possível cliente atravessou a rua olhando-a de relance. Passou encostado ao caixote de lixo e parou olhando para trás.
Ela não hesitou e abordou-o imediatamente.Sentiu o corpo dele estremecer de prazer ao contacto.
Subitamente, ouviu uma voz zangada: Lord! Não te posso trazer à rua sem trela que vens logo enfiar-te nos sítios mais porcos!
Que chatice! Quando chegares a casa dou-te um banho com desinfectante! Que nojo!
Não acredito, pensou ela! Isto não me está a acontecer!
O melhor era sair dali o mais rápidamente possível. Assim o fez e, de longe, observou o majestoso pastor alemão que, cabisbaixo e com a cauda entre as pernas, seguia o dono.
Que chatice! Mais valia ter ido com o Cocker Spaniel ou com o Setter Irlandês.
Meu Deus, porque me fizeste pulga?!?!...
9 comentários:
Que imaGInação.
Simplesmente fantástica!
Muito bom! :)
Excelente!
Só a tua cabecinha pensadora para fazer um post destes!!!
Beijos
Eheheheh! Ta demais!
Achei muito giro, sim, mas tenho "críticas".
:P
Bjoka
Conta lá minha "pulguenta"!
A Gi falou da pulga
que andava lá no Parque
com tanta gente por lá
não há ninguém que a mate?
Gi Tá demais!!!!!
É dureza ser pulga.
Bjos
Tita
Tu és mesmo GI[ra]!!!
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