sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

UM TEXTO DE E NO NATAL POR DIA E NEM SABE O BEM QUE LHE FARIA

Pedro Sena-Lino escolheu o vermelho (ou encarnado) como a Cor do Natal.


corre-nos por dentro e não o conhecemos.
rio secreto, que tinge cada pulsação dentro do mundo, cada olhar para o infinito. é no vermelho a casa, o caos e o sol.
andamos de pé dentro de nascer, como animais de luz à procura do seu lugar na noite. o nosso peso em estrelas, o destino de um corpo proibido, gerado das junturas do impossível com a água de amanhã. alguém nasceu o meu futuro sendo uma criança.
não conheço o meu sangue. não posso sentar-me à beira da sua corrente e ver-me passar, em direcção de tantas entregas, tão iluminadas quedas.
perceber o vermelho é andar, ter uma casa na distância, quando sinto que o universo está na raiz dos ossos e na sua explosão de dar. fazer do sangue os gestos, quando passo todos os limites do possível para quebrar os selos da noite permissível.
cair inteiramente no futuro em gestos redentores. esta a minha casa, este o destino dos rios que correm dentro do meu corpo, este sou eu: reordenar o sol quando ando. este o destino do sangue, o modo do vermelho: dar-me. sentar-me à beira de mim e chegar-me.
e no mesmo volume de astros, ser a casa e caos que reinventa: o vermelho interior, nascido há dois mil anos, a emergir do presente absoluto.

1 comentário:

Patti disse...

Eu bem te disse que ele era bom. Muito bom mesmo!
Obrigada pela surpresa.