CONHEÇAM A TERRA DO(S) MEU(S) PAI(S) 4

O ÚLTIMO VICE-REI DA ÍNDIA

O ex-Estado da Índia "viveu" 456 anos visto ter sido criado em 1505 com a nomeação de D.Francisco de Almeida como 1º Vice-Rei e ter terminado com a ocupação de Goa, Damão e Diu pela República da Índia aos 19 de Dezembro de 1961.

Ao longo desses 456 anos o antigo Estado teve 130 governantes: 128 Governadores, 1 Prefeito (o goês Bernardo Peres da Silva - 1835) e 1 Comissário Régio (o oficial da Armada João António de Brissac das Neves Ferreira - 1896/1897). Um dos governadores, Rafael de Andrade (11/1895-03/1896), tem muito fraca menção no "Tratado de Todos os Vice-Reias e Governadores da Índia" (Editorial Enciclopédia, Ldª - Lisboa, 1962) mas é referenciado com alguma amplitude em "A History of Goa" de J.A.J. da Costa (Mapusa-Goa, 1982) e m'"O Visconde de Bardez (1843-1907)" de Leopoldo F. da Rocha (Lisboa, 1983).

Dos 128 governadores, apenas 51 foram Vice-Reis. O primeiro, como se viu, e que foi simultaneamente o 1º Governador, foi D.Francisco de Almeida (1505/1509), antes de Goa se tornar portuguesa (1510). Passaram depois 25 anos até a Índia ter o seu 2º Vice-Rei, que foi o 6º Governador - D.Vasco da Gama (Set./Dez. de 1524).

O 50º Vice-Rei e 84º Governador foi D.Manuel Francisco de Portugal e Castro (1826-1835). E só 61 anos mais tarde, em 1896, surgiria o 51º e último Vice-Rei da Índia, na pessoa do irmão do Rei D.Carlos - o Infante D.Afonso Henriques, Duque do Porto e mais tarde príncipe de Portugal.

Foram muito especiais as circunstâncias que rodearam a nomeação de D.Afonso. Em Setembro de 1895 revoltaram-se (com justeza, diga-se em abono de verdade) 298 soldados maratas do quartel de Pangim, os quais, entrincheirando-se no forte de Nanuz (concelho de Satari) e juntando-se aos Ranes* descontentes e aos populares explorados pelos grandes comerciantes e pelos narconis (escrivães das "comunidades" nas Novas Conquistas), começaram a saquear as povoações de quase toda a Goa. Não cabe no âmbito deste escrito historiar esta revolta, que foi narrada (com várias incorrecções e, principalmente, com juízos de valor gravosos para os rebeldes e para o goês Visconde de Bardez) no "Correio de Domingo" de 10.12.1895 mas cuja descrição pormenorizada nos é dada por Leopoldo F. da Rocha no seu opúsculo atrás citado.

Para debelar a revolta enviou o governo de Lisboa uma expedição militar sob o comando do Infante D.Afonso. Este, chegado a Goa em 12.11.1895, marchou para Satari em 25 do mesmo mês e conseguiu rapidamente meter em respeito o "inimigo", não porém sem que este continuasse com as suas reivindicações e o clamor por justiça. Estava terminada a missão que aoPríncipe fora confiada.

D. Afonso assumiu então as rédeas da governação em Março de 1896 como 109º Governador e 51º (e último) Vice-Rei da Índia, cargo que abandonou aos 27 de Maio do mesmo ano, após ter pacificado a região, concedido a almejada amnistia aos revoltosos e nomeado Comissário Régio o já referido Neves Ferreira.

* Indivíduos de uma casta nobre das Novas Conquistas de Goa, com tendências guerreiras.

Como este post "calha" em 3ª feira de Carnaval, resolvi postar aqui uma foto minha, com 10 anos, interpretando, dançando, para uma multidão, em Luanda, num Festival das ex e actuais (naquela altura)colónias portuguesas, uma canção do folclore goês: o Dehkni "Aum saibá poltori vetam" (Eu vou para a outra margem, senhor) que tem a ver com hindus; fala de uma bailadeira de um templo hindu que, querendo passar para a outra margem de um rio, para assistir a um dança de bailadeiras, negoceia como barqueiro o preço da travessia, propondo-se dar-lhe todos os seus enfeites, dos pés, das mãos e do nariz, o que, o barqueiro tudo recusa, respondendo às sucessivas ofertas da moça :"macá nacá go" (eu não quero, mulher).

A outra razão porque postei esta foto foi porque não tinha aqui comigo (e que pudesse "scanar"), uma foto do Arco dos Vice-Reis em Velha Goa. Façam uma pesquisa no google e vejam imagens, sim? :)