MÁGICA BLOGALÓGICA

Era uma vez uma menina que veio ao mundo com um estranho poder. Tendo nascido fora da época das Tecnologias de Informação apresentava um grave problema técnico: pensava em textos que ainda haveriam de ser escritos por outros apesar de terem sido pensados por ela.

Recorrentemente uma palavra ecoava em si e dava disso conta à sua mãe falando-lhe em blogues.

- Blogues?!!!!! E ainda me dizia o Padre Firmino que baptizando-te ficavas sem o pecado original. Pois sim! Blogues, ora essa, coisa mais estapafúrdia!

Intitulava-se a ela própria Mágica Blogalógica tendo a Maga Patalógica acusado-a de plágio na versão inventada.

A menina cresceu e os blogues foram criados para grande espanto da velhota mãe que já não tinha idade para que as magias da filha se tornassem realidade.

Quando Mágica Blogalógica resolveu começar a escrever no mundo que tinha imaginado nunca pensou que, afinal, aquele grave problema técnico de, mesmo sem ler os blogues, pensar e escrever diferente do que os outros escreviam mas que entendiam que era igual só porque o seu post começava pelas mesmas letras ou palavra se chamava plágio.

Ficou feliz afinal andava a copiar escritores famosíssimos e conceituados da literatura nacional, o que nunca lhe tinha acontecido na vida real, porque ela só sonhava mesmo era escrever blogues.

Espantoso!

Era acusada de plagiar por justaposição, por omissão, por deturpação, por adição, por elipse, por hiato, por hipérbole, por imaginação, por falta de imaginação, por impressão, por parábola, por fruição, por indigestão. Pronto plagiava e estava tudo dito.

Queixavam-se que ela plagiava este e aquele blogue, este ou aquele post mas nunca lhe diziam na cara.

Esqueceram-se foi de uma coisa é que o que Mágica Blogalógica mais gostava de plagiar era comentários. Exactamente! Quais comentários originais.

Pensava, pensava, guardava-os em rascunhos até à hora de alguém comentar (processo idêntico ao que fazia com os posts, lembram-se?), porque tinha nascido com um erro técnico. Pois é!

Depois pegava num pedaço de comentário aqui, noutro mais acolá, e.... zás fazia o seu original comentário, rindo-se, porque aqui nunca achavam que era plágio; só não plagiava um comentário bastante original, por sinal, aquele em que tinha rascunhado LOL, porque ninguém, mas ninguém comenta assim nos blogues. Lol!

Um dia iniciou um post por:

Conhece a cabra que existe em ti!

Logo uma cabra que se encontrava por perto baliu, esperneou e deu coices, fora de si:

-Atreves-te a plagiar-me? A única cabra aqui sou eu, em ti não existe nenhuma cabra, pensas que és mágica ou quê?

Resolveu deixar a vida virtureal, largar os blogues, curar o plágio, agora que sabia qual era a sua doença e regressar alegremente à vida real.

Mudou de pseudónimo e resolveu dedicar-se aos livros.

Escreveu um com o seguinte prefácio:

Tinha 30 anos, alto, curvado ao se sentar, algum desleixo no vestir. Cara pálida, com sofrimento diluido. Era ajudante de guarda-livros em Lisboa e frequentava os restaurantes da Baixa, nas sobrelojas, onde encontrou Pessoa falando-lhe da sua admiração pela revista Orpheu. Fumava. Tinha um especial interesse em observar aqueles que o rodeavam. Levava uma vida suave, de afastamento, de entrega ao sonho. O Livro do Desassosego, não é dele, mas é ele próprio.

Pareceu-lhe bem e assinou Bernardo Soares. Não é que um certo Fernando Pessoa diz que Bernardo Soares é um heterónimo seu e que foi ele que o escreveu?

É preciso ter descaramento e ... falta de plágio, claro está!