terça-feira, 8 de maio de 2007

E ASSIM SE FALA EM BOM PORTUGUÊS

*Linguagem vernácula de Olhão*
Por partilharem comigo as suas histórias, os meus agradecimentos às funcionárias administrativas Inês Simões e Fernanda Veloso, assim como à técnica de cardiopneumologia Sandrina Marto.
6h da manhã.
O Sol já aparecia distinto sobre o azul celeste.Em torno da porta do Centro de Saúde, um pequeno grupo de utentes organizava-se para a marcação da consulta "à vaga".
A maioria já se conhece. Afinal todos são já bem experimentados nesta forma bem própria de utilização da consulta. Aliás, o Director do Centro de Saúde até mandou instalar uns banquinhos de jardim no local, para tornar a espera mais atractiva. É uma excelente oportunidade para trocar experiências e conhecimentos, que todos vão acumulando ao longo do seu percurso de contactos com os médicos ehospitais.
A Maria do Céu vai à consulta do Parlamento, a Dona Gertrudes vai à consulta da Monopausa e a Rita é que as corrige informando-as que aquela consulta chama-se de Planeamento Familiar.
Uma tem um biombo no úbero e leva os resultados duma fotografia, outra está preocupada com comichões na serventia do marido, até porque ele, havia poucos dias, tinha já sido consultado pelo médico por estar com os alforges todos inflamados. Alguém logo ali diagnosticou um problema na aprosta do marido. Mais à distância desta conversa, um grupo de senhoras falavam dos métodos contraceptivos e, uma delas, peremptória, afirmava que nunca aceitaria porem-lhe uma fateixa dentro da barriga! Uma outra discordava, e lá lhe foi dizendo que por causa disso é que teve tantos filhos, felizmente todos de parto normal, só o último foi de açoreana, mas aquele que lhe dava mais problemas era o mais velho que já era toxico-correspondente!
Noutro local, um grupo de homens mais idoso ia falando da relação entre o castrol e a atenção. Às tantas um deles começa a explicação cuidada dum acidente que tivera. Por isso é que tinha a vacina contra o tecto em dia, mas o acidente estragou-lhe a tibiotísica e causou-lhe uma hérnia fiscal, pelo que tinha ido fazer uma fotocópia e um traque.
Outro referiu que nunca teve problemas de ossos, o seu problema era uma grande espirrogueira na peitogueira. Uma senhora, atraída pela conversa, queixava-se de entupimento no curso com dores alucinantes quando se abaixava. Além disso cobria-se de suores e gómitos, ficava almariada e tudo acabava com uma forte encacheca, ficando cerca de 3 dias com cara de caveira misteriosa. Alguém lhe falou nuns supositórios que a poderiam ajudar mas ela já os conhecia, aparentemente tinham sido muito difíceis de engolir, pelo que o melhor ainda era o clistério.
Finalmente, uma outra senhora queixava-se da úrsula no estambo, pelo que vinha mostrar o resultado duma endocuspia e ainda algumas análises especiais, como a Proteína C Reaccionária .
8h30mn da manhã.
Ainda havia muito para conversar mas a Inês, jovem funcionária administrativa do Centro de Saúde, obviamente tarefeira, acaba de chegar. Os funcionários administrativos não podem chegar atrasados, caso contrário, confundir-se-iam com os doutores.
- Quem é o primeiro, se faz favor? Ora diga lá o seu nome?
- Josefina Trindade.
- Idade?
- 67 anos.
- Estado . . .?
- Constipada, muito constipada!
9h da manhã.
Aparece a enfermeira Freitas que grita para a pequena multidão barulhenta que cerca a Inês:
- Quem está para medir as tensões? É você? Então entre e diga-me qual é o seu problema?
- Sabe, senhora enfermeira, o meu problema é ter uma doença arrendatária que arrendei do meu pai e já me levou uma vez aos cuidados utensílios do hospital. Afecta-me as cruzes renais e por isso dá-me muita humidade à volta do coração. Aliás, o doutor pediu-me uma pilografia e um aerograma que aqui trago e recomendou-me beber pouca água.
Finalmente, chega o médico, que logo dá início às consultas:
- Então de que se queixa?
- De uma angina de peito, senhor doutor. Tudo começou há uma semana quando fui às urgências. O médico disse-me que era uma angina na garganta, mas a angina começou a descer e agora apanha-me o peito todo!
Aos poucos, os utentes iam entrando e saindo, com melhor ou pior cara. Alguns perguntavam à Inês onde era o pechiché da retrosaria para pagarem a taxa moderadora.
O senhor Batista foi dos utentes que saiu mais zangado da consulta. Permaneceu estoicamente na fila desde as 5h30m da manhã e, agora, o médico tinha-lhe dito que o seu atestado para carta de condução era com outro: o Delegado de Saúde.
Finalmente é chamado pelo Delegado de Saúde para o exame do atestado:
- Sr. Batista, faça-me o favor de pôr o dedo no nariz. Não, senhor Batista, não é no meu, é no seu nariz!
O utente estava muito nervoso e depois do primeiro falhanço achou por bem enterrar o dedo profundamente nas fossas nasais!
O Delegado de Saúde desiste:
- Muito bem, senhor Batista! Fica com a carta com as mesmas restrições anteriores.
O Sr.Batista saiu radiante - tinha, pelo menos, mais 2 anos de carta para conduzir - e ao passar pelos outros utentes que ainda esperavam, avisou:
- Espero que estejam constipados, porque só passa quem tiver uns bons macacos para tirar do nariz !
Recebido por email

Sem comentários: