domingo, 4 de janeiro de 2009

A COR DE CADA UM
Na república do Espicha-Encolhe cogitava-se de organizar partidos políticos por meio de cores.
Uns optaram pelo partido rosa, outros pelo azul, houve quem preferisse o amarelo, mas vermelho não podia ser. Também era permitido escolher o roxo, o preto com bolinhas e finalmente o branco.
― Este é o melhor ― proclamaram uns tantos. ― Sendo resumo de todas as cores, é cor sem cor, e a gente fica mais à vontade.
Alguns hesitavam. Se houvesse o duas-cores, hem? Furta-cor também não seria mau. Idem, o arco-íris. Havia arrependidos de uma cor, que procuravam passar para outra. E os que negociavam: só adoptariam uma cor se recebessem antes 100 metros de tecido da mesma cor, que não desbotasse nunca.
― Justamente o ideal. É a cor que desbota ― sentenciou aquele ali. ― Quando o Governo vai chegando ao fim, a fazenda empalidece, e pode-se pintá-la da cor do sol nascente.
Este sábio foi eleito por unanimidade Presidente do Partido de Qualquer Cor.
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), Contos Plausíveis, José Olympio Editora, p. 17, 1985.

7 comentários:

PDuarte disse...

não sei onde fica Espicha-Encolhe, mas cá, a uns meses das eleições os tecidos ganham novamenete cor, para voltarem a desbotar no fim das mesmas.
e essa unanimidade!!!...

Maísa disse...

Passei para te agradecer o comentário, rsrsrs e para te desejar um excelente 2009, com saúde e trabalho acima de tudo.
Beijinhos, muitos.

Si disse...

Mas afinal o Drummond não se finou em 87??
Como é que ele conseguiu ler os jornais de hoje???
rsrsr

Olá!! disse...

Verdadeiramente pintado :)

aespumadosdias disse...

Um com as cores do arco-íris parece-me bem.

LeniB disse...

Essa república faz-me lembrar outra...

Ka disse...

Muito actuais estas palavras...parece mesmo que anda a par do que se passa (não fosse ele já ter morrido :S )

Beijoss