Pôs pés ao caminho com as suas acompanhantes de veraneio, que haviam estado em repouso para ganharem fôlego para mais uma caminhada.
Elas, ansiosas por se libertarem do claustrofóbico armário, pareciam ter ganho asas.
Andaram, andaram, os pés do caminhante cansados, mas elas nada de abrandarem o ritmo.
- Andem mais devagar, não aguento mais, implorava o caminhante.
- Vá, vamos lá, há tanto para ver, estivemos estacionadas 6 meses naquele armário bafiento do vão-da-escada e nem uma visita nos fizeste! Se nos tivesses passeado, de quando em vez, se nos tivesses levado a apanhar ar, talvez agora estivéssemos mais calmas; temos ainda muito por onde nos esticar.
- Arre! Parece que comeram sopa de cavalo maluco e que tomaram o freio nos dentes, mas eu já vos tiro a corda, vão ver!Fincando os pés no chão, agarrou-se a elas e puxou-lhes as rédeas, desapertando as cordas.
Foi assim que o encontrei sentado no passeio de uma rua de Alfama, tendo nos pés duas sandálias com cara-de-mal-apertadas e ele, o Caminhante, com um aberto sorriso de vitória.
6 comentários:
Esta mulher 'está a aprender a escrever', ai está está.....daqui a nada ainda põe asas nas sandálias do homem e vai ter com o Hermes, vai, vai.....
P.S. Estes encontros com a escrita criativa estão cada vez mais fascinantes!!
Ai milher, tu não me digas que ainda se encontraram com a minha Briolanja Maria, lá na ilha deserta?
Ai que impressao que me fez a fotografia.
Essas sandálias devem ser da família dos meus sapatos! Nas duas últimas manhãs palmilharam quilómetros, gozando o sol que os acariciava à beira mar.
Pois não pare de escrever...
E achei piada à foto.
Abraço.
Ao ver estes pés/ténis fiquei com a nítida impressão que falta alguém ali.
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