terça-feira, 3 de março de 2009

CONHEÇAM A TERRA DO(S) MEU(S) PAI(S) 5

BERNARDO PERES DA SILVA - O único Governante Goês do Estado da Índia
Ao longo dos 456 anos da existência do Estado Português da Índia BERNARDO PERES DA SILVA (BPS) foi o único governante goês desse Estado. E também, com excepção do "comissário régio" Neves Ferreira (nomeado pelo vice-rei D.Afonso, em Goa, e não por Lisboa), foi o único que, embora munido de plenos poderes de governação e de representaão do Rei de Portugal na Índia, não teve o título de Governador: foi nomeado por D.Pedro IV (que fora D.Pedro I do Brasil e era nessa altura em Portugal Regente do Reino durante a menoridade da sua filha D.Maria II) PREFEITO DO ESTADO DA ÍNDIA.
Nascido em Neurá (Ilhas, Goa) a 15.10.177 e falecido em Lisboa aos 14.11.1844, Bernardo teve uma vida bastante atribulada. Órfão muito cedo de pai e mãe, ficou ao cuidado do seu tio Padre Caetano Peres, frequentou os estudos secundários no seminário de Rachol e formou-se em medicina na Escola Médica de Goa, onde chegou a ser lente substituto, tendo sido também "procurador do povo" no município das Ilhas. Liberal por natureza, resistiu energicamente às pressões do vice-rei Conde do Rio Pardo D.Diogo de Sousa que pretendia regulamentar o tratamento clínico - o que lhe valeu a animosidade deste e dos seus sequazes e o aplauso de grande parte da população. Assim, quando chegou a Goa a notícia da revolta (em Portugal) de 1820 e rebentou em Setembro de 1821 a sedição contra o vice-rei, BPS esteve naturalmente entre os revoltosos ma não aceitou integrar a Junta Provisional de 5 membros que se formou para governar a Índia.
Eleito deputado às Cortes (Parlamento Português) em 1822 juntamente com António de Lima Leitão e Constâncio Roque da Costa, partiram os três para Lisboa mas não chegaram a tomar posse por entretanto ter sido restabelecida a monarquia absoluta. De caminho, tendo o navio em que viajavam arribado a Rio de Janeiro, estiveram algum tempo presos porque o Brasil, já independente, exigia que todas as restantes colónias portuguesas proclamassem igualmente a independência. Nomeado Intendente-Geral da Agricultura da Índia e regressado a Goa, não lhe foi dada posse por causa das suas ideias liberais. Eleito novamente deputado nas eleições de 1827 em que derrotou o próprio vice-rei D.Manuel de Portugal e Castro, viu outra vez gorada a sua presença nas Cortes por estas terem sido dissolvidas pelo rei absolutista D.Miguel. Emigrou então para Inglaterra e depois para o Brasil, onde viveu no Rio de Janeiro a ensinar a ler.
Deposto D.Miguel pelos liberais, D.Pedro IV quis premiar a lealdade de BPS nomeando-o PREFEITO DO ESTADO DA ÍNDIA em 1834. Mais uma vez, pouco durou a sua felicidade. Tendo assumido o governo em Goa em 14.01.1835, nomeou secretário o seu amigo Constâncio Roque da Costa e governador militar o seu confidente (europeu) Cor. Fortunato de Melo. Este porém traiu-o apoiando uma revolta da oligarquia local que o Prefeito começara a reprimir, e BPS foi deposto na noite de 1 de Fevereiro, preso e banido para Bombaim. Os ingleses a quem recorreu, negaram-lhe auxílio mas, ajudado pelo almirante americano Holborn, tentou chegar ao forte de Tiracol (onde se haviam acoitado muitos dos seus apoiantes) à frente de uma expedição naval. Esta, no entanto, assolada por um ciclone, teve de regressar a Bombaim, tendo aqueles seus apoiantes sido brutalmente chacinados pela tropa às ordens do Cor. Melo. Entretanto Damão e Diu continuavam fiéis ao Prefeito, que por isso estabeleceu o seu governo no primeiro destes territórios. Houve deste modo uma temporada em que o Estado da Índia teve dois governos rivais: um em Goa e outro em Damão e Diu.
BPS veio a reconhecer a autoridade do novo governador Simão I. La Cerda de Sousa Tavares, Barão de Sabroso (1837/1838), e regressou a Goa. Eleito deputado pela terceira vez em 19.02.1839, tomou finalmente assento nas Cortes onde com muito vigor defendeu os interesses da Índia e das outras colónias portuguesas. Morreu tão pobre, que antes tivera de vender a mobília para custear as despesas com a doença que acabou por o vitimar.
Curtorim (Mucher)

6 comentários:

Patti disse...

É por isto, por estas tricas políticas que eu gosto muito de história.

Um dia podias de falar sobre o sistema das castas.

Anónimo disse...

Curioso, nestes seus posts sobre Goa é, para além do novelo que vai desfiando, descobrir nomes que nos soam de forma familiar. Espero, um destes dias, ver o que me é mais familiar de todos, para depois lhe contar uma história pessoal sobre a minha relação com Goa.

kris disse...

essa foto está linda!!!!

Anónimo disse...

Mas porque "raio de carga d'água" são as pessoas íntegras as que mais azares têm na vida?

fj disse...

tenho q arranjar alguma disponibilidade para ler todos estes posts relacionados... já vão em 5??
Parabéns...
:)*

Anónimo disse...

bom, o BPS ainda teve mais azar que dom João III.
MUITO BOM.