BERNARDO PERES DA SILVA - O único Governante Goês do Estado da Índia
Ao longo dos 456 anos da existência do Estado Português da Índia BERNARDO PERES DA SILVA (BPS) foi o único governante goês desse Estado. E também, com excepção do "comissário régio" Neves Ferreira (nomeado pelo vice-rei D.Afonso, em Goa, e não por Lisboa), foi o único que, embora munido de plenos poderes de governação e de representaão do Rei de Portugal na Índia, não teve o título de Governador: foi nomeado por D.Pedro IV (que fora D.Pedro I do Brasil e era nessa altura em Portugal Regente do Reino durante a menoridade da sua filha D.Maria II) PREFEITO DO ESTADO DA ÍNDIA.
Nascido em Neurá (Ilhas, Goa) a 15.10.177 e falecido em Lisboa aos 14.11.1844, Bernardo teve uma vida bastante atribulada. Órfão muito cedo de pai e mãe, ficou ao cuidado do seu tio Padre Caetano Peres, frequentou os estudos secundários no seminário de Rachol e formou-se em medicina na Escola Médica de Goa, onde chegou a ser lente substituto, tendo sido também "procurador do povo" no município das Ilhas. Liberal por natureza, resistiu energicamente às pressões do vice-rei Conde do Rio Pardo D.Diogo de Sousa que pretendia regulamentar o tratamento clínico - o que lhe valeu a animosidade deste e dos seus sequazes e o aplauso de grande parte da população. Assim, quando chegou a Goa a notícia da revolta (em Portugal) de 1820 e rebentou em Setembro de 1821 a sedição contra o vice-rei, BPS esteve naturalmente entre os revoltosos ma não aceitou integrar a Junta Provisional de 5 membros que se formou para governar a Índia.
Eleito deputado às Cortes (Parlamento Português) em 1822 juntamente com António de Lima Leitão e Constâncio Roque da Costa, partiram os três para Lisboa mas não chegaram a tomar posse por entretanto ter sido restabelecida a monarquia absoluta. De caminho, tendo o navio em que viajavam arribado a Rio de Janeiro, estiveram algum tempo presos porque o Brasil, já independente, exigia que todas as restantes colónias portuguesas proclamassem igualmente a independência. Nomeado Intendente-Geral da Agricultura da Índia e regressado a Goa, não lhe foi dada posse por causa das suas ideias liberais. Eleito novamente deputado nas eleições de 1827 em que derrotou o próprio vice-rei D.Manuel de Portugal e Castro, viu outra vez gorada a sua presença nas Cortes por estas terem sido dissolvidas pelo rei absolutista D.Miguel. Emigrou então para Inglaterra e depois para o Brasil, onde viveu no Rio de Janeiro a ensinar a ler.
Deposto D.Miguel pelos liberais, D.Pedro IV quis premiar a lealdade de BPS nomeando-o PREFEITO DO ESTADO DA ÍNDIA em 1834. Mais uma vez, pouco durou a sua felicidade. Tendo assumido o governo em Goa em 14.01.1835, nomeou secretário o seu amigo Constâncio Roque da Costa e governador militar o seu confidente (europeu) Cor. Fortunato de Melo. Este porém traiu-o apoiando uma revolta da oligarquia local que o Prefeito começara a reprimir, e BPS foi deposto na noite de 1 de Fevereiro, preso e banido para Bombaim. Os ingleses a quem recorreu, negaram-lhe auxílio mas, ajudado pelo almirante americano Holborn, tentou chegar ao forte de Tiracol (onde se haviam acoitado muitos dos seus apoiantes) à frente de uma expedição naval. Esta, no entanto, assolada por um ciclone, teve de regressar a Bombaim, tendo aqueles seus apoiantes sido brutalmente chacinados pela tropa às ordens do Cor. Melo. Entretanto Damão e Diu continuavam fiéis ao Prefeito, que por isso estabeleceu o seu governo no primeiro destes territórios. Houve deste modo uma temporada em que o Estado da Índia teve dois governos rivais: um em Goa e outro em Damão e Diu.
BPS veio a reconhecer a autoridade do novo governador Simão I. La Cerda de Sousa Tavares, Barão de Sabroso (1837/1838), e regressou a Goa. Eleito deputado pela terceira vez em 19.02.1839, tomou finalmente assento nas Cortes onde com muito vigor defendeu os interesses da Índia e das outras colónias portuguesas. Morreu tão pobre, que antes tivera de vender a mobília para custear as despesas com a doença que acabou por o vitimar.
6 comentários:
É por isto, por estas tricas políticas que eu gosto muito de história.
Um dia podias de falar sobre o sistema das castas.
Curioso, nestes seus posts sobre Goa é, para além do novelo que vai desfiando, descobrir nomes que nos soam de forma familiar. Espero, um destes dias, ver o que me é mais familiar de todos, para depois lhe contar uma história pessoal sobre a minha relação com Goa.
essa foto está linda!!!!
Mas porque "raio de carga d'água" são as pessoas íntegras as que mais azares têm na vida?
tenho q arranjar alguma disponibilidade para ler todos estes posts relacionados... já vão em 5??
Parabéns...
:)*
bom, o BPS ainda teve mais azar que dom João III.
MUITO BOM.
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