O País perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos e os caracteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido, nem instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não existe nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Já se não crê na honestidade dos homens públicos. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. O desprezo pelas ideias aumenta em cada dia. Vivemos todos ao acaso. Perfeita, absoluta indiferença de cima a baixo! Todo o viver espiritual, intelectual, parado. O tédio invadiu as almas. A mocidade arrasta-se, envelhecida, das mesas das secretarias para as mesas dos cafés. A ruína económica cresce, cresce, cresce. O comércio definha. A indústria enfraquece. O salário diminui. A renda diminui. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo.
Eça de Queiroz
Eça de Queiroz
Junho de 1871
in "Uma Campanha Alegre"
24 comentários:
Quase 150 anos e continuamos a pensar o mesmo... :/ Não imagino onde vamos parar!
Deves ter tido um trabalhão mas o post está fantástico!
Deu-me imenso trabalho. E não foi por falta de links. ;)
Obrigada.
Tu trabalhas que te fartas hããã?
Leituras dessas e links desses... Tá bonito! :)
(Joking)
Beijinhos
MRPereira: Como já disse e reafirmo, eu tenho um emprego, não tenho trabalho.
Ora bem ainda só vou no primeiro parágrafo :P
Vou fazer intervalo para almoço e de tarde venho ler o resto, sim?
Isto é que é tempo investido, hein!
Muito bom.
Ka: Qual é o primeiro parágrafo? Não vejo nenhum pa´ragrafo, mas uma imensa sucessão de pontos finais. ;)
Volta sempre que quiseres. ;)
Patti: Muito agradecidazinha.
valha-nos as cor dos links para contrastar com o negro do conteúdo e a campanha ser alegre para equilibrar a nossa tristeza com tudo isso!!
Fantástico post!
É por isso que considero o Eça como meu escritor preferido e a Gi uma das bloggers de sentido crítico mais aguçado neste bairro...
Intertextualidade intemporal:
Há pouco li as gordas e as primeiras linhas de cada artigo linkado. Agora estive a ler cada reportagem, uma a uma.
Todos os links, são realidades muito tristes e que sinceramente não lhes vejo fim, antes continuidade, mas destaco:
- a classe média, com os despautérios na pessoa de Lili Caneças; ri-me tanto que até me dói a barriga;
- a história da gatinha bebé; os humanos são nojentos;
- o artigo do VGM sobre o património; o desprezo pela nossa herança cultural, bule-me com os nervos. Não há povo mais ignorante, cretino e acéfalo, do que aquele que despreza o seu próprio legado. Como o nosso e assim vemos o estado a que chegámos. Somos uns burgessos;
- a medida da Cusham; no meio de tudo isto, parece-me sensata e os próprios trabalhadores concordaram com ela. Claro que será horrível tirarem-nos benefícios já adquiridos, mas no meio de tanto desemprego, insegurança e incerteza no futuro, reduzir as horas de trabalho e por consequência acertar o salário, parece-me sinceramente melhor que nada. Ao ponto que chegámos…
Vou deixar este pra mais logo, pode ser?
Si: Muito agradecida, em nome do Sr. Queiroz e em meu próprio nome. :)
Patti: Sabes porque gosto de ti não sabes? :)
paulofski: Não sei se pode ser ... depende do logo.
Se for assim tão tarde quanto a Ka ... ahahahah.
Claro que sei, querias ser loura como eu!
Digo-te que ficou lindo o texto, assim, parecendo um arco-iris.
Ah, Gi! Que isto escrito há tantos anos e servir ainda hoje...
bom dia Gi ( e agora o céu ficou azul)mas não é por muito tempo.
Gi, os parabéns pela originalidade minha querida :)
De tantas opções apresentadas não consegui escolher qual destacar e comentar.
Fiquei assim como que uma criança frente a uma montra de bolos e doces.
Com vontade de comer (comentar) todos, acabando por nem um provar.
Não deixa de ser confrangedor que passado mais de 1 século ainda sejam actuais as afirmações de então!
Perfeitamente fabuloso este post, Gi! Não tenho dúvidas que deu muito trabalho a fazer ( mas também dá muito trabalho a ler e confeso que ainda não li tudo...).
Cada vez gosto mais de me meter neste 31!
O Eça não poderia estar mais actualizado.
Ai Gi, o meu pc ainda tem um ataque na placa com tanto link. Este teu poste, para além de excelente, é uma manta de retalhos deste país.
Tarde sim mas presente e depois de ter lido na diagonal cada um dos artigos :D
(fiquei com o rebento doente e tive de o ir buscar ao infantário, flar com médico ...enfim uma roda viva!!)
De facto há obras sempre actuais e AS farpas é uma delas. (noutro campo totalmente distinto lembro-me do livro Admirável mundo novo de Aldous Huxley que aidna hoje continua a ser assustadoramente actual)
Imbecilidade é a palavra correcta depois de ver as afirmações da LC :S
E VGM faz-me lembrar da inércia do nosso estado a defender o património. Tenho muita pena que não esteja ele á frente da cultura e património em Portugal. (este artigo é bem demonstrativo da sua atitude a defender o que é nosso http://www.teiaportuguesa.com/lusografo/vascogracamoura.htm )
Enfim...uma pena que este seja o estado da nação :S
Eça é realmente intemporal mas olha que tu corres sérios riscos de vires a ser rezada na História.
Maravilha.
Hoje sem palavrão, mas merecia outro.
Caramba que orgulho tenho, em trocar caractéres contigo.
És a maior.
Nostradamus português.
Belo trabalho, GI, e assustador como algo dito há tanto tempo se mantém real.
Beijoca!
Intemporal este Eça....
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