quinta-feira, 23 de abril de 2009

CAMPOS DE VISTA

Montargil, 21.04.09
Acordou.
Era Sábado. Estava sol.
Resolveu passar o dia no campo. Nunca lá tinha estado. Nasceu na cidade. Vivia na cidade. Morreria na cidade mas não sem antes ir ao campo.
Recordou em flashback o que tinha lido sobre pessoas que gostavam de passar o dia no campo.
Sorriu. Vestiu uns calções. Vestiu uma camisa clara. Pôs um lenço ao pescoço. Procurou o panamá que usava quando ia à praia. Calçou os ténis que calçava no tempo em que tinha tempo para fazer desporto. Foi até à cozinha e num saco térmico enfiou uma embalagem de pão de forma, uns pacotes de sumos de frutas, uma embalagem de pasta de fígado, uns triângulos de queijo, uma palete de fiambre. Demorou foi mais tempo a encontrar uma toalha aos quadrados, mas lá a desencantou.
Enfiou-se no seu carro topo-de-gama e fez-se à autoestrada.
Guiou, guiou, guiou e guiou e nunca mais encontrava o campo.
Continuou a guiar cada vez mais intrigado por o campo ser assim tão longe.
Como é que as pessoas faziam pic-nic no campo e jogavam à bola e nadavam nos rios sempre de dia e ele demorava tanto a encontrar o campo, sendo que já era quase de noite?!!!!
Finalmente, no fim de tanta autoestrada encontrou uma placa que dizia Caminha.
Caminha????! - pensou.
Para além de intrigado, confuso ficou.
Será que devo aqui dormir ou, a partir daqui, deverei seguir a pé?
Se calhar as pessoas que vão ao campo vão a pé!
Bem, já é de noite e não consigo ver nada.
Regressa triste e cansado e com fome ... pela autoestrada.
Caminha para a caminha.
Já não estava sol.
E já não era Sábado.

12 comentários:

Si disse...

Ó Valha-me Deus!
Então o campista não encontrou o campo nem caminhou para Caminha?
E nem abrandou a fome com o farnel embrulhado na toalha aos quadrados, dentro do saco térmico?
Despistou-se, concerteza, para não encontrar nem pista de um campo que lhe sossegasse a vista!

Gi disse...

Ai, Si, eu escrevo coisas tão irreais, tão surreias, tão estapfúrdias que um dia ainda me põem um colete de forças e me enfiam numa caminha sem direito a campo de visão nenhum.

aespumadosdias disse...

Passear pelo país. Gosto muito.
E agora é tudo tão mais perto.

Patti disse...

Este é o retrato dos parolos dos tempos modernos, que só conhecem as autoestradas e já se esqueceram do significado das palavras aventura e vaguear.

São os primos dos das grandes superfícies.

paulofski disse...

Mas que grandavolta!...Já percebi, não podia parar na auto-estrada para pedir indicações, não foi?

maria inês disse...

Caminha, mais logo, mas cedinho muito cedinho!

Si disse...

Não são loucas, Gi.
São é muito bem GIzados e com um apurado sentido de crítica!

1/4 de Fada disse...

Mas que volta dos tristes tão grande que o pobre deu!

KING SOLOMON disse...

Quem tirou esta foto teve o prazer de desfrutar de uma linda paisagem. A barragem chama-se de Montargil. O lugar é Montalvo e no Verão é conhecido como "praia dos tesos". Durante todo o ano vou para esse preciso lugar fazer caiaq e estar por aí. Por enquanto é um lugar lindo, tranquilo ...

Gi disse...

C NARCISO - De facto assim é; fui eu que tirei a foto e tirei outras lindíssimas que porei um dia no fotogínica (o meu blogue de fotos).

PAS[Ç]SOS disse...

Talvez, agora, alguém se lembre de colocar nas auto-estradas indicações 'CAMPO'... já agora...

CPrice disse...

"parolos dos tempos modernos" Gostei Patti. E gostei deste Postal Gi e da fotografia que me trouxe assim de repente e sem eu estar à espera saudades dos tempos em que acampava por ali .. "selvaticamente" ainda que em comunhão perfeita com a Natureza que nos rodeava ;)

Boa semana (curta!) :))