terça-feira, 24 de novembro de 2009

SEM COMENTÁRIOS [MEUS] #5 - O GRITO


O Grito, Edvard Munch, 1893.

"Gritei durante 23 anos mas ninguém me ouvia"
Um erro de diagnóstico dos médicos fez um belga passar 23 anos preso a uma cama, já que se pensava que estava em coma. Rom Houben escutava e ouvia tudo à sua volta, mas não conseguia comunicar.
Quando tinha 23 anos, o antigo estudante de engenharia sofreu um acidente rodoviário que o deixou completamente paralisado. Só há poucos meses é que foi provado, através de exames com aparelhos de tomografia, que o cérebro funcionava de maneira normal.
Após várias sessões de fisioterapia, Houben, agora com 46 anos, começou a conseguir digitar mensagens num ecrã de computador. “Todo este tempo tentava gritar, mas não havia nada para as pessoas escutarem", afirmou após 23 anos sem conseguir comunicar com as pessoas. “Frustração é uma palavra muito pequena para descrever o que eu senti”.
O erro foi detectado pelo neurologista Steven Laurey, que acredita que existam muitos casos similares ao de Houben no resto do mundo. O médico acredita que este caso pode ser determinante para que seja dada uma abordagem diferente aos casos de pessoas com paralisias, já que podem não estar completamente inconscientes.
Laurey disse ao "Daily Telegraph" que “só na Alemanha, por ano, cerca de 100 mil pessoas sofrem graves lesões cerebrais traumáticas.” Desse total, cerca de 20 mil ficam em estado de coma durante três ou mais semanas, dos quais alguns acabam por morrer e outros recuperam. "E estima-se que entre 3 mil e 5 mil pessoas permanecem numa fase intermédia: continuam vivos sem nunca voltar."


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Munch descreveu assim a experiência que o levou a pintar a sua obra-prima: «Caminhava eu com dois amigos pela estrada, então o sol pôs-se; de repente, o céu tornou-se vermelho como o sangue. Parei, apoiei-me no muro, inexplicavelmente cansado. Línguas de fogo e sangue estendiam-se sobre o fiorde preto-azulado. Os meus amigos continuaram a andar, enquanto eu ficava para trás tremendo de medo e senti o grito enorme, infinito, da natureza.»

11 comentários:

Lúcia disse...

Também tenho acompanhado a notícia.
Mas, aqui, quero felicitar a inteligência e a sensiblidade na associação que fizeste.
E de uma notícia preocupante, mas notícia, fizeste um post magnífico!

Anónimo disse...

Quando li a notícia há dias no El País, senti um arrepio enorme. Deve ser um sofrimento terrível. Muito pior do que a dor, é a incapacidade de nos exprimirmos, quanto mais não seja para dizer:ESTOU VIVO PORRA! Deixem de se lamentar ao pé de mim e façam alguma coisa...

aespumadosdias disse...

Ouvi na rádio hoje de manhã esta notícia.
Que vergonha! Afinal não é só em Portugal que há médicos maus.

Flip disse...

terrível, Gi, pobre homem, uma vida de arrepiar, oxalá enontre alguma recompensa no tempo 'extra' que ainda terá à frente...

Goldfish disse...

Que angústia inimaginável. E que belo post.

Precious disse...

Cristo, é como ser enterrado vivo, com a diferença que é muito mais longo e torturante.

Si disse...

Perfeitamente arrepiante.
23 anos?
Eu acho que já tinha morrido mesmo, ou então entrado num estado completamente alucinatório.

paulofski disse...

Há uns anos presenciei um caso do género, um homem que vegetava numa cama de uma enfermaria por mais de 2 anos, sem capacidade de comunicar nem de se movimentar. No dia em que finalmente teve alta para um lar de cuidados continuados deixou fugir uma lágrima! O cérebro humano ainda tem ainda tanto por descobrir.

Girstie disse...

Esta história foi impressionante mesmo! O verdadeiro grito silencioso. Ainda bem que há histórias que fazem ter esperança.

AvoGi disse...

Há coisas fantásticas, não há? Não é só em Portugal.Pena que ainda existe erros humanos que não se sentam no banco dos réus, infelizmente. Esses fecham-se todos. Coitados daqueles que caem nessas malhas.

M.A. disse...

Foi uma notícia que bastante me impressionou. Será muito difícil imaginar o tormento passado por aquele homem, durante os 23 anos últimos, em que não podia comunicar. Penso que este caso será uma chamada de atenção para situações semelhantes virem a ser analisadas de forma diferente e mais cuidadosamente.