Pai, hoje trago-te de presente estas palavras.
Se te encontrares com Hermann Hesse, seu autor, diz-lhe que gosto muito dele e que te ofertei estes seus pensamentos de que, descaradamente, me aproprio porque os sinto meus:
Tenho no que respeita à morte a mesma atitude de antes: não a odeio nem tão-pouco a temo. Se me pusesse a investigar com quem, para além da minha mulher e dos meus filhos, mais gostaria de poder conviver, chegar-se-ia à conclusão que são sobretudo pessoas mortas, mortos de todos os séculos, músicos, poetas, pintores. O seu génio, concentrado nas suas obras, sobrevive-lhes, é-me muito mais presente ve mais real que a maioria dos meus contemporâneos. O mesmo se passa com os mortos que conheci ao longo da minha vida, hoje tanto como outrora, quando ainda estavam vivos, penso neles, sonho com eles, faço deles parte integrante da minha vida quotidiana. Esta relação com a morte não é, pois, uma mera ilusão nem uma fantasia, é real e faz parte da minha vida. Conheço bem o pesar causado pela transitoriedade, sinto-o em cada flor que fenece; trata-se, porém, de uma tristeza sem desespero.
In "Elogio da Velhice"
Para ti que sempre escreveste tão bem e que terás agora oportunidade de privar de perto com aqueles que admiraste.