Os diferentes partidos que há muitos anos se sucedem no exercício do poder têm por chefes dois ou três indivíduos, cujas personalidades absolutamente destituidas de ideias correlativas ou concomitantes, representam as duas ou três fases por que sucessivamente vai passando e repassando em círculo sobre o mesmo carreiro a rotação governativa.
Os personagens aludidos têm as intenções mais puras e mais honestas deste mundo. Ter outras, desonestas e impuras, dar-lheis ia maçada, e para aí é que eles não vão.
Diz-se também que são todos mais ou menos fortes nessa arte, velha e atrasada, que se chama a eloquência e que tem por objecto desfazer pela exageração artificial das palavras a justa proporção das coisas.
Ano: 1882
Autor: Eça de Queirós
3 comentários:
Há por aí muito "boa gente" que aspira a ser Presidente da Junta.
Enfimvoam mais baixinho, têm ambiçoes mais rasteiras.
Eça De Queiroz...o seu realismo tem 2 séculos e em 2 séculos Portugal viveu o resto da monarquia, assistiu à conquista republicana parlamentar, o desaire ditatorial e o restabelecimento da democracia. Quem estuda ou estudou ciência política sabe muito bem da diferença entre todos, mas parece impossível que entre um século XIX mergulhado na Monarquia e um século XXI em que se vive numa República Democrática não existam diferenças em termos da incompetência, prepotência e do exagero dialéctico partidário e de todos os políticos.
Um Grande abraço ao Jose Maria Eça De Queiroz
Eça de Queiroz, existe sempre um pretexto para ler ou reler a obra deste escritor, pode ser as “farpas” (dele e de Ramalho Ortigão, creio), “Os Maias”, “A Relíquia” ou “O crime do padre Amaro” ou outras, e já agora de Camilo Castelo Branco “A queda de um Anjo”. Podemos encontrar ao longo das paginas destes livrinhos, uns mimos à classe política e à Igreja, que por sinal continuam actuais)
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