terça-feira, 10 de março de 2009

CONHEÇAM A TERRA DO(S) MEU(S) PAI(S) - 6

OS RANES DE SANQUELIM E SATARI
Em alguns capítulos da série CONHEÇA A SUA TERRA falou-se dos RANES. Vejam-se, nomeadamente, os números 1 e 4 da série. Parece-nos de interesse fazer uma referência mais alongada a esse clã; quem são os RANES, qual é a sua proveniência, qual foi o impacto que tiveram na constituição do território de Goa e no seu tecido social.
É voz corrente que os RANES são de origem rajput - o clã guerreiro que desde tempos medievais dominou o território que se chamou Rajputana, no actual estado indiano de Rajasthan (noroeste da parte continental da Índia), em cuja capital Jaipur existem palácios imponentes e majestosos dos então maharajás. A atribuição dessa origem aos RANES de Goa deve-se provavelmente à índole aguerrida e irrequieta destes. Mas, como diz o Dr. Teotónio R. de Souza no seu ensaio Rane Mat'tai Pakleanko (Os Ranes matam os Portugueses) incluido na colectânea GOA TO ME, enquanto o Dr. Germano Correia no seu estudo antropológico "Les Ranes de Satary" por um lado faz fé na crença popular da origem rajput dos Ranes, conclui por outro, após pesquisas a que procedeu, que "a sua origem étnica continua a constituir um problema antropológico que carece de solução". Também, a confirmar-se a crença, permanece ainda o mistério de se saber quando, por que motivo e por que rota se processou a sua saída de Rajputana em direcção ao sul e a sua fixação nesta parte do Concão.

Enquanto senhores dos territórios correspondentes aos actuais concelhos (talukas) de Bicholim e Satari - que ao tempo formavam uma única província com sede em Sanquelim -, os RANES foram durante durante muito tempo vassalos do BOUNSULÓ, rajá de Savantvari. Fartos porém dessa vassalagem e do tributo que pagavam ao rajá, a partir de 1746 e através de vários tratados que volta e meia violavam, aderiram ao que então era a Goa Portuguesa (Bardez, Ilhas, Salcete e Mormugão), até que em 1781 ou 1783 foi definitivamente afastada a suzerania do referido rajá e estabelecida naqueles concelhos a soberania portuguesa. Já em 1746 os Ranes haviam ajudado o Vice-Rei D.Pedro de Almeida Portugal a conquistar ao rajá o forte de Alorna, na margem norte do rio Chaporá - feito que valeu a D.Pedro o título de Marquês de Alorna e fez com que, mais de 40 anos depois e após constantes batalhas, o Bounsuló oferecesse a Portugal, num tratado de paz, todo o espaço compreendido entre esse rio e o de Tiracol - o concelho de Perném.

Por mais de 100 anos os RANES foram explorando os gauncares (descendentes varonis dos primitivos possuidores das terras de cultura, como bem diz o Dr. Leopoldo F. da Rocha) e os roitos (camponeses) de Satari e Sanquelim e aterrorizando a população de toda a Goa tendo-se revoltado pelo menos 19 vezes contra a administração portuguesa. A rebelião de 1852/1855 foi chefiada por Dipaji (ou Dipu) Rane e as de 1895/1896 e 1901/02 por Dadaji (ou Dadá) Rane. A primeira destas duas últimas foi sanada pelo Infante D.Afonso, enquanto a segunda teve como desfecho o encarceramento de Dadá no forte de Aguada e a sua deportação para Timor onde faleceu em 1906. A última revolta verificou-se me 1912, por uma questão fiscal. Prontamente debelada, os seus mentores foram deportados para a Ilha do Príncipe (parte do arquipélago - hoje República - de São Tomé e Príncipe), na costa ocidental de África.


Praia de D.Paula


3 comentários:

Patti disse...

Então os Ranes a uma certa altura, deixaram de reinar com os tugas.
É o costume.

o nome rajá de Savantvari, é um espectáculo.

Anónimo disse...

já uma vez te tinha falado neste blog:
Herdeiro de Aécio.
quando tiveres vagar e calma começa por aqui:
http://herdeirodeaecio.blogspot.com/2008/12/os-estados-principescos-da-ndia-1.html
é uma maravilha.
bj.

Gi disse...

PDuarte: Já? Não me lembro nada; lá irei de seguida, obrigada.