Olhem-me só para a Helena Bonham Carter como Rainha de Copas e para o meu mais-que-tudo Johnny Depp como Chapeleiro Maluco?
Não estão um must?
Também gosto do que Tim Burton escreve:
A MORTE MELANCÓLICA DO RAPAZ OSTRA
Nas dunas, pediu-lhe casamento,
à beira-mar se casaram.
Na Ilha de Capri celebraram
esse tão grande momento.
À ceia jantaram um prato sobejo:
uma bela caldeirada de peixe e marisco.
E, enquanto ele saboreava o petisco,
no coração ela pediu um desejo.
O seu desejo tornou-se realidade: teve um bébé.
Mas seria um ser humano?
Pois é,
na verdade,
tinha dez dedos nos pés e nas mãos,
tinha visão e circulação.
Podia ouvir, podia sentir,
mas seria normal?
Isso não.
Este nascimento aberrante, este cancro, esta praga
foi o princípio e o fim de toda uma saga.
Ela zangou-se com o doutor:
"Esta criança não é minha.
Cheira a maresia, a salmoura e a tainha."
"Olhe que tem sorte, ainda a semana passada
tratei de uma miúda com crista e rabo de pescada.
Se o seu filho é meio ostra
não me venha acusar...
... já pensou por acaso
numa casinha à beira-mar?"
Sem saber que lhe chamar,
chamaram-lhe Alves,
ou, às vezes,
"aquela coisa da espécie dos bivalves."
Toda a gente se perguntava mas ninguém sabia
quando é que da concha o Rapaz Ostra saía.
Quando os quatro gémeos Lopes um dia o foram ver,
chamaram-lhe amêijoa e desataram a correr.
Num dia azarado,
Alves ficou encharcado
à esquina da rua Miramar.
Cabisbaixo,
viu a chuva rodopiar
pela sarjeta abaixo.
Na auto-estrada, a sua mãe,
à beira de um esgotamento,
esmurrava o painel dos instrumentos
não conseguia conter
a dor crescente,
a frustração
que a fazia sofrer.
"Olha, querido", disse ela,
"isto não é para ter piada,
mas eu já não pesco nada
e acho que é do nosso filho.
Não gosto de o dizer, pois sou uma mulher que te ama,
mas tu culpas o nosso filho pelos teus problemas na cama."
Ele bem se aplicou, com muito denodo;
tentou salvas e unguentos
que lhe faziam comichões,
tintura de iodo,
mezinhas e poções.
Coçou-se e sangrou e esmifrou-se todo.
Até que o médico diagnosticou:
"Eu não sei de ciência,
mas a cura do seu problema pode ser o que o causou.
Dizem que comer ostras aumenta a potência:
talves se comer a criança
fique cheio de pujança."
Ele foi pela calada
estava escuro como o breu.
Tinha a testa suada
e nos lábios - uma mentira ensaiada:
"Filho, és feliz? Não me quero intrometer,
mas nunca sonhas com o Céu?
Nunca quiseste morrer?"
Alves pestanejou duas vezes
mas não ripostou.
O pai tacteou o punhal
e a sua gravata aliviou.
Pegando no filho ao colo,
Alves pingou-lhe a lapela.
Levando a concha aos lábios,
despejou-o pela goela.
Depressa o enterraram na areia junto ao mar
- uma prece rezaram, uma lágria mderramaram -
e para casa voltaram à hora do jantar.
A campa do Rapaz Ostra foi marcada com uma cruz.
Palavras escritas na areia
prometiam a salvação de Jesus.
Mas a sua memória perdeu-se numa onda de maré-cheia.
De volta à paz do lar,
ele beijou-a arfar:
"Que tal uma rapidinha?"
"Mas desta vez", sussurou ela, "quero uma rapariguinha."
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9 comentários:
Também gosto do Tim Burton e até já escrevi sobre o assunto, "Rapariga Vudu", citando o livro que também citas.
Eu tem dias. Ele é capaz do melhor e do pior. Aquele escarro da fábrica de chocolate, por exemplo, devia ter sido proibido por ofensa ao pudor.
Adoro o Johnny Depp! Está muito bem caracterizado!
Com certeza que verei o filme.
Também gosto de ver o J.Depp actuando. Desde as Mãos de Tesoura acho que vi quase todos os "filmes dele".
A B.Carter também gosto. É excelente!
Castanha Pilada: Eu adorei o filme.
Eu adoro o Tim Burton!! Mas já sei q vou ter de esperar imenso até q esse filme estreie por cá :((((
Ora aí está mais um filme de sucesso que certamente irei gostar.
Eu adoro o Johnny Depp e se fôr misturado com o Burton mais ainda. O Chapeleiro Maluco só podia mesmo ser ele (acenta-lhe que nem uma luva)...
Jokas
Eu tb sou fã :)
beijo
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