quinta-feira, 27 de setembro de 2007

SANTIDADE (4)

A E.não entra na história
27 09 2007 09.07H
O "Caso do Sargento" é complexo, admita-se. Mas o "Caso do Sargento" só é complexo se for visto pelo lado dos protagonistas adultos que o compõem. E das soluções absurdas que a cada dia parecem inventar.
O Capítulo I é sobejamente conhecido, por isso podemos passar já aos seguintes.
Capítulo II, o pai biológico continua a reclamar o direito à filha, e a mãe biológica, redescoberta pelos media, é acometida de um súbito instinto maternal e vem também pedir direitos de visita.
Capítulo III, o Sargento é preso, depois de um mandado de captura que durante meses não foi executado por vontade popular, e a mãe "afectiva" foge com a criança.
Capítulo IV, percebe-se que em diferentes tribunais do País, decorrem vários processos, afinal todos diferentes, todos iguais, porque a "ré" é a mesma.
Capítulo V, as cenas inacreditáveis sucedem-se à velocidade da luz, e até há programas de televisão que simulam salas de audiências, enquanto partidários de uma e outra causas se digladiam. A opinião pública está ao rubro.
Capítulo VI, pesa um mandado de captura sobre a mãe "afectiva", considerada raptora da "filha" com quem vive desde os três meses, e as autoridades esforçam-se o que podem para NÃO a encontrar.
Capítulo VII, aparentemente um rasgo de bom senso parece ter iluminado a cabeça de alguém, que decide juntar as partes à mesma mesa.
Conclusão do encontro, justificado com pareceres de psicólogos: entregar temporariamente a menina aos pais afectivos e conceder direitos de visita aos biológicos.
Capítulo VIII, um pequeno pormenor tinha escapado. É que o Sargento está preso, a mãe é uma fugitiva, e a criança corre o risco de ter sido entregue a dois foras-da-lei. Solta-se o prisioneiro, retira-se a ordem de prisão à senhora, e adiante.
Capítulo IX, infelizmente a criança não parece querer colaborar. Imagine--se que começa a revelar uma ansiedade crescente, um estado psicológico preocupante. Vá-se lá saber porquê: tem cinco anos e meio, o pai foi preso por causa do "lobo mau", andou escondida para escapar ao "lobo mau", e agora há uns sujeitos, que não conhece de lado nenhum, que lhe dizem que afinal o bicho é doméstico, e uma óptima companhia para piqueniques. E já agora que afinal também há outra mãe, com quem se deve mostrar atenciosa e delicada. E não é que a idiota da criança em lugar de perceber que isto tudo é apenas uma comédia, assusta-se? Capítulo X, os mesmíssimos psicólogos voltam a analisar a situação. Estão preocupados. A "cobaia" não está a reagir como previsto. Pedem ao tribunal que passe as visitas de quinzenais a mensais. Até ver.
Capítulo XI, acabadinho de acontecer. O Tribunal da Relação de Coimbra decretou que a criança deve ser entregue ao pai biológico. Três quartos do País, que já fez a sua escolha de quem deve ganhar este campeonato, levanta-se indignado, a minoria opositora bate palmas de contente; afinal, não está tudo perdido.
Capítulo XII. O que será feito da criança, a que deram o nome de pequena E?, pergunta a despropósito o leitor. Mas, meu Deus, quem é que lhe meteu na cabeça de que aquela criança de carne e osso tem alguma coisa a ver com esta história?
Isabel Stilwell
editorial@destak.pt
Haverá Santo (a) que a valha?

1 comentário:

Anónimo disse...

UM AMIGO MEU QUE É JUIZ
DIZ-ME QUE NUM CASO ASSIM
PARA A DECISÃO SER FELIZ
PRIMEIRO ESTÁ A PETIZ
NÃO FOI O ACONTECEU, ENFIM!

E UM LEIGO COMO EU
AO SABER DA DECISÃO
NADA PERCEBEU
DAQUILO QUE ACONTECEU
ONDE ESTÁ A PREOCUPAÇÃO?